Descobertas musicais de uma infância no início dos anos 2000
Um olhar sobre as implicações da forma de consumo nas influências musicais
As vezes me pego pensando em como meus gostos musicais foram moldados ao longo dos anos. E esses pensamentos sempre me fazem chegar ao espaço da estante em que meus pais empilhavam as dezenas de CDs, e como eu, no auge dos meus 7–8 anos, lidava com as “novidades”.
Foi nessa época que eu comecei a mexer no aparelho de som que tinha na sala da casa de meus pais, que era até moderno: Um aiwa, rodava CD, além de fitas e FM. Digo isso por que meu primo e vizinho rodava suas fitas (e por vezes, discos) numa radiola, o que convenhamos, nos dias de hoje seria muito mais “cool”.
Cada capa, uma novidade
Lembro de sair ouvindo tudo que tinha nessa estante. Foi aí que tive o primeiro contato forte com forró, o que é meio óbvio já que estamos falando do interior do Ceará. E aqui surge uma paixão que dura até hoje: Mastruz com Leite.
Havia vários CDs da banda lá, uns 10, dos quais destaco o Moto Táxi e o Ao Vivo, ambos da melhor fase da banda, com Katia Cilene, Bete, Aduilio…que banda maravilhosa. Ainda no forró, lá tinha Rita de Cássia, Cavalo de Pau, Banda Styllus (banda de Limoeiro do Norte, cidade vizinha, e onde uma vizinha já tinha cantado), Calango Aceso, Brasas do Forró e Limão com Mel (sim, incluindo aquele acústico sofrência). Tinha também um CD de coletânea do ano de 2002, que tinha Rastapé!
Depois do forró, o segundo ritmo mais presente era Brega! Dos quais destaco Waldick Soriano, Zezo e outros. Aqui eu destaco um CD Promocional da gravadora Gema (de janeiro de 2002), que encontrei no Spotify com outro nome e capa, e que me motivou a escrever esse texto e finalmente documentar essas reflexões. Esse CD tem uns bregas bons e umas músicas bem esquisitas, da qual destaco O Rap do Habib, da banda Los Minnos.
Por fim, foi aqui que descobri Scorpions, através de uma cópia daquele acústico maravilhoso, e um CD do O Grande Encontro (Elba, Zé, Geraldo e Alceu), entre outros tantos artistas, locais e nacionais.
Aí veio o MP3 e a Internet…
Um fato interessante é que quase todos esses CDs que citei eram originais, exceto o do Scorpions. Naqueles tempos ainda não havia a banalização da pirataria, nem estávamos na era da internet, que já existia mas ainda era uma realidade distante, ou talvez fosse apenas meu pai que sempre valorizou produtos originais (até hoje é assim).
A minha geração talvez tenha sido a última que teve esse contato com a música por meios físicos. Não direi que não sinto saudades desses tempos, onde era necessário espetar um CD na gaveta do aparelho de som pra ouvir algo (ahh, a nostalgia!). Também não direi que sou saudosista ao ponto de rechaçar as facilidades modernas, que inclusive me possibilitam a continuar ouvindo essas músicas, pois a maior parte desses CDs se perderam com o tempo (estamos falando de uns 15 anos ou mais, né?).
Bom, isso é um pequeno recorde do que eu estava ouvindo no início dos anos 2000. Obviamente essas não foram minhas únicas influências da juventude, já que depois veio a fase adolescente e posteriormente o boom da internet.
Atualmente me considero uma pessoa eclética, como toda pessoa sensata deveria ser em um mundo onde temos acesso a absolutamente qualquer música, de qualquer estilo ou região (seja local ou do mundo). Continuo ouvindo meus forró, que agora virou “forró das antigas” e meus brega, é claro. Cá entre nós: Se a música tem em sua essência uma natureza atemporal, a internet maximizou isso de tal forma que há uma geração nova que ouve raça negra, canta evidências em coro e faz memes com Sweet Dreams.
Nota: Eu também tive contato com fitas, mas foi um pouco anterior a isso. Foi uma fase de transição. Preferi não citar nesse texto por que a ideia era focar nos CDs da estante da casa de meus pais.