Até onde vai a imaginação na modelagem de interfaces

Um pequeno relato sobre a ótica de um designer que pensa como programador

Yan Vancelis
3 min readMar 17, 2019

Tenho enfrentado um dilema um tanto curioso nos últimos anos, mas especialmente neste último, quando passei a estudar Design, que é imaginar sistemas no ponto de vista do designer (ou artista, porque não) e abandonar a minha velha perspectiva de programador, que pensa essencialmente no lado funcional da força.

Programador Vs Designer

No mundo do desenvolvimento de aplicações e sistemas, há uma “disputa”, vamos dizer assim, dentro da equipe, pela hegemonia na materialização dos requisitos propostos na hora de desenvolver um determinado sistema. Numa das pontas, temos os designers, que compreendem o sistema por uma ótica estética e funcional, tomando todos os cuidados inerentes a interação que o usuário terá frente a esse sistema e como as coisas vão acontecer em consequência disso.

Do outro lado, temos os programadores, que por sua vez estão preocupados em garantir que o que foi pedido irá funcionar de forma eficiente (ou só funcionar, vai saber). Aqui, não há preocupação com o usuário, estamos lidando com uma linguagem meramente sistêmica. Se o requisito é “gerar um arquivo PDF contendo as informações…”, um método será escrito para fazer com que as informações sejam resgatadas no banco de dados e retornadas em um arquivo PDF, ponto. Essa é a forma de pensar do programador, nós resolvemos o problema.

Recorrentemente, essas duas frentes são antagônicas, porque um dos lados está condicionado a pensar o sistema dentro de suas limitações técnicas, o outro, a pensar o sistema da maneira mais abrangente possível, de forma imagética, aquilo que o sistema deve ser, o que nem sempre é implementável (ou não facilmente implementável) pelo programador. Um exemplo seria o designer pensar uma caixa de busca onde os resultados apareceriam de uma determinada maneira, afim de prover uma melhor usabilidade, porém, de extrema dificuldade de implementação devido a complexidade da operação no banco de dados. Resumindo: Pode haver um pequeno “gargalo” nesta relação. Enquanto um fica dentro da caixinha, o outro tem o céu como limite. Mas e quando o Designer também é programador?

Imaginar…dentro da caixinha

Para o programador, é difícil pensar além do proposto, algoritmos são frios, calculistas, funcionalistas. Dentro deles, a imaginação faz no máximo você fazer eles funcionarem de formas mais eficientes computacionalmente ou pelo menos ser esteticamente bonito e claro (sim, há estética no código também), mas nada comparado ao designer, que pode ir muito mais longe nesse quesito. Mas quando o designer pensa como programador, ele está limitado, preso as amarras técnicas impostas pelas ferramentas. No dizer popular, é tirar o cavalinho da chuva, mesmo.

Isso não é de todo ruim. Um designer com pensamento mais orientado a essas restrições pode render mais dentro de uma equipe, já que sempre chegará a soluções mais maduras e dentro da realidade “programável”. Por outro lado, perderemos, até certo ponto, o nossos poder de inovar, de ir além do obvio, mesmo que isso tenha custos técnicos mais difíceis de atingir.

Para mim, que venho de uma base mais forte na programação, a caixinha é bem automática. Quando preciso modelar uma interface, minha imaginação só vai até um determinado ponto onde eu sei que está dentro do possível, pois o tempo todo eu estou pensando na implementação, independente de ser eu o programador ou não. Estudando uma graduação em Design (mesmo que seja Digital), é um exercício diário tentar fugir dessas amarras impostas pela minha própria mente na hora de criar.

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Written by Yan Vancelis

Designer cabra da peste das brenha do Ceará

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