As mídias computadorizadas
Como os computadores mudaram a forma como lidamos com as mídias
Em tempos de Netflix, é difícil imaginar as mídias (cinema, fotografia…) sem as características adquiridas com a era digital, iniciada pelo advento dos computadores, que se consolidam na metade do século XX. Para entender sobre essas características, precisamos analisar, em perspectiva histórica, a origem das mídias até chegarmos a invenção do computador.
Nos primórdios, tudo era texto. Isso, é claro, após o advento da escrita e, muitos séculos depois, dos tipos móveis de Gutemberg. A escrita era a única forma de transmitir uma informação, que nem sempre atingia muitas pessoas. O povoado de Péronne, por exemplo, só veio saber da queda da bastilha ao fim daquele mês, mesmo estando a apenas 133km da capital francesa, e possivelmente por meio da igreja ou de pessoas ligadas a Estado, isso porque boa parte das pessoas não sabia ler no século XVIII, sendo correios e jornais um artefato para poucos (Hobsbawm, 1962). Cito este fato para refletirmos como a informação era limitada, não apenas ao meio, mas a forma de reproduzir e, consequentemente, se fazer entendida. Logo mais, no século XIX, veio a revolução industrial e com ela a necessidade de alfabetizar as pessoas. A partir daí, aumentam-se as possibilidades embutidas no próprio papel, expandindo os jornais e estabelecendo posteriormente a dita mídia impressa.
Além do papel e da tinta
Nessa mesma época, surge o que chamaríamos de fotografia, ou seja, passamos a conseguir captar momentos do mundo real gravando feixes de luz em um material sensível. É bom lembrar que antes disso, a única forma de representar o real se dava apenas pela pintura, que no fim se resumia a algo abstrato. Esta invenção é crucial para o surgimento do cinema, que consistia em simular o movimento usando essas mesmas imagens (frames) em sequência. Essas invenções traziam novas formas de comunicar e logo foram incorporadas ao próprio texto, no caso das imagens no jornal, e gerar uma nova forma de entretenimento, no caso do cinema. Podemos citar ainda o surgimento da capacidade de captar e reproduzir áudios, curiosamente também neste século. Essas mídias viriam a se popularizar no século XX, servindo de base para a Televisão, o Rádio e a imprensa, alterando drasticamente a maneira com que as pessoas se informam e se comunicam, interferindo diretamente na cultura.
E o computador? Como entra nessa história?
Sim, o computador também surge no século XIX, ainda que em sua forma mais primitiva, é verdade, pelas mãos de Charles Babbage e sua Máquina Analítica. Essa máquina compartilha de uma característica em comum com o dispositivo que você (provavelmente) está usando para ler este texto agora: Ambos são calculadoras. O nome Computador vem de computar, que nada mais é do que calcular.
Já no século XX, Alan Turing, ateu, homossexual, pai da Ciência da Computação, cria o conceito de Máquina Universal, que serviria de base para o computador moderno, uma máquina programável. A partir daí, as coisas aconteceram rápido, e em pouco mais de 50 anos tivemos o advento do padrão PC, um computador pequeno e acessível para o usuário final.
Diferente das invenções anteriores, o computador não consistia na simples alteração de uma matéria como o papel ou um filme fotossensível. A não ser que você considere que binários são, de alguma forma, um tipo de matéria, mas que diferente dos anteriores, é algo totalmente mutável. Era apenas uma questão de tempo até começarem a representar as velhas informações usando a abstração computacional, representando tudo em zeros e uns.
As novas mídias
“Cadê as notas que estavam aqui? não preciso delas! basta deixar tudo soando bem aos ouvidos” — Monólogo Ao Pé do Ouvido, Nação Zumbi
As informações continuam lá. As imagens que nos inspiram e nos informam, as músicas que embalam nossos dias e os filmes que nos emocionam, os textos que nos ensinam e noticiam. Com uma pequena diferença, pois agora todos compartilham da mesma matéria, os binários, manipuláveis com a exatidão da matemática.
E assim surgem as novas mídias, fruto da interseção das mídias já existentes com o computador, o meio pelo qual todas elas convergem. Se em algum momento o cinema incorporou o áudio e o texto, no computador o texto virou hipertexto, agora incorporando a imagem, o vídeo e a música, o cinema ganhou traços totalmente abstratos e a música perdeu a dependência dos instrumentos para ganhar vida. Basta deixar tudo soando bem aos ouvidos, já dizia Chico Science. A união disso tudo deu origem a novas culturas como os games e a realidade virtual. As possibilidades são infinitas. Levou-se séculos para sairmos dos tipos de Gutemberg para a efetivação da mídia impressa, menos de 70 anos para sairmos dos cassetes para o Netflix. É só o começo.
Texto feito para a disciplina de Sociedade, Cultura e Tecnologias com base nas leituras e debates realizados em sala.